quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Aqui e agora

Aqui, agora.
Em qualquer outro tempo, em qualquer outro lugar.
Luto todos os dias contra a vontade de te procurar,
de te agarrar, empurrar contra uma parede e
beijar-te sem parar para respirar sequer.

Às vezes, penso se é apenas isso que me faz falta:
Ter o teu corpo misturado com o meu, sem regras;
O teu sabor e o meu, provocando arrepios com a
respiração ofegante no meu pescoço;
Nas minhas costas, os teus dentes docemente
cerrados, sem pensar, sem medo, sem tabus.
Talvez, aqui mas não agora,
Eu sinta a tua falta, apenas físico e não do emocional.
Talvez seja a saudade das tuas mãos que me assombra,
de te sentir a olhar para mim no final da tarde
E depois quando me abraças...

Mas tu não estás aqui e agora
Não estiveste ontem nem estarás amanhã.
E eu sei e luto, de novo, mas para te ver partir do teu espaço,
da gaveta que desenhei, decorei e, preparei para ti
e para mais ninguém.

Não aqui e não agora - Apenas silêncio,
marcado com as palavras de "Adeus", "Até um dia".
Levo-te no coração mas um dia vou ter que te deixar
caminhar na rua estrada, desenhada, decorada, preparada por ti.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Perfume

Espalhado por toda a roupa, está o teu perfume.
A tua presença vagueia em mim, nos meus livros, na minha cama.

O som do mar faz-me lembrar quando dormiste no meu peito, sabendo que era aí que estarias guardado.
As horas queimadas como o papel, rapidamente, calorosamente fizeram com que me marcasses com a tua côr, o teu sabor.

Nem saber que te partilho (ou será que apenas me alimento com a essa esperança?) com memórias mal apagadas, mal amadas me fez afastar de ti, da tua imagem feliz quando estávamos juntos e prestes a apaixonar.

Fugiste cedo demais, tinha tanto ainda para dar.

Mas...
Foi bom, não foi? Os passeios meio escondidos do mundo, os beijos roubados e os sorrisos incontroláveis?

Estivemos perto, pertinho, como quando sonhava que andávamos à beira-mar, de mão dada e surgia o pôr-do-sol devagar, devagarinho.
Eu dei-te o meu coração para o guardares bem guardado, tentei-te mostrar o quanto desejava ser a tua mulher, pertencer-te só a ti, dividir-me só para ti.

Não chegou e vi-me embrenhada numa perigosa rede em que era eu o pequeno insecto indefeso que lutava contra as malhas de um sentimento completamente diferente, que impedia a luz da razão entrar.

Quero voltar à mesma Raquel de sempre, Filipe - A Raquel racional e forte que partilha a vida contigo sem se envolver, sem decompor o seu próprio ser, rir até cair sem medo ou falta de confiança.
Quero redescobrir a mulher que um dia fui sem o teu perfume no meu vestido vermelho.
Se não sou suficiente para me amares, de que vale a pena lutar numa batalha perdida?
Contudo, eu ainda faria tudo de novo, igual ou melhor, dar-nos-ia um começo sem final se isso te despertasse a realidade (agora) irreal de que nós ainda teríamos uma nova oportunidade para sermos amantes, felizes, apaixonados.

Flutuo

"Hoje eu vou fingir que não vou voltar
Despeço-me do que mais quero
Só para não te ouvir dizer que as coisas vão mudar amanhã.


Hoje eu vou fugir para não me dar a vontade de ser tua
Só para não me ouvir dizer que as coisas vão mudar amanhã, amanhã, amanhã."

Susana Féliz in Flutuo

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Não

Ela deambulava pela rua fora.
Os passos eram como os de uma criança.
Pequenos, solenes, marcados.

Tomara as suas próprias decisões.
Dera-lhe o seu coração mas ele não o guardou.
"Não faz mal"- pensava ela, secretamente -

"De qualquer forma não o faria feliz:
Não lhe traria luz aos dias;
Não o faria corar;

Não lhe traria o pequeno-almoço à cama;
Não o beijaria com paixão;
Não lhe lhe diria que seria para sempre;

Não dançaria com ele à chuva;
Não vestiria aquele vestido por ele;
Não dormiria abraçada a ele.

Pelo menos não todos os dias.
Ter-lhe-ia dado o tempo, o espaço.
Ter-lhe-ia dado as saudades e a reconciliação.

Mas quem escolhe é quem não ama.
Porque quem ama não têm escolha,
Apenas vive porque vive a amar.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Carne fraca

Esperar foi das primeiras lições que aprendi sobre gostar de alguém.
Esperei por ti e tu apenas não vieste.

A tua roda viva de desengano manteve-te vivo e, ao fazê-lo permitiu-me continuar a (sobre)viver.

Chega! Não quero isto. Não quero saber que estiveste abraçado a ela, que a beijaste, que a tocaste.Não quero saber que nem sequer pensaste em mim, no meu rosto, no meu corpo.


Foi tudo em vão? Eu pensava que te tinha adoçado o coração e afinal olha o que fizeste ao meu!Nunca permiti que as circunstâncias alterassem o meu jeito de ser mas tu não és assim.

Se te desejo e se te adoro, então não vou correr para chorar as minhas mágoas no peito de outro homem. É puramente contra-natura, contra-amor.

Vou ter que te deixar ir porque eu para ti sou apenas mais uma apesar de tu teres a prova viva e diária que eu sou bem diferente e de saberes que eu te faço bem e te faço feliz.

Somos o avesso porque eu sou pró-felicidade, pró-confiança ainda que os motivos que me prendem a isso sejam o teu sorriso, o teu beijo, as tuas brincadeiras tolas e a forma como me pegas ao colo e danças comigo no meio da rua.

Tornaste-te carne fraca e deixaste-me escapar.
E eu, desta vez, queria que fosse de verdade. Tinha esperanças depositadas em ti.

Vai e não voltes.
Corre para ela ou para outra qualquer; já não importa porque também já não há nada que eu possa fazer para te manter comigo.
Desejo-te muito, ainda, mas preciso de alguém que tome conta de mim e tu simplesmente não o queres fazer.