"Naquela balada morena que me perseguia pelas ruas, não me apercebi da sombra que se deslocava atrás de mim, leve como ar mas ao mesmo tempo tão real como a parede de tijolo pela qual passava as minhas mãos pequenas mas longas e hábeis. Cada passo era a constatação da sua presença - uma presença que me parecia invisível dada a minha concentração no teu jeito de ser, de me envolver. Os segundos traduziam-se numa coreografia sem regras na qual a liberdade era o ritmo que me guiava. Sem justificações e sem ter que recorrer a um compasso insonoro que era apenas audível para mim.
Ainda assim consiga senti-la, aquela pressão que já antes tinha sentido, como se alguém se estendesse por cima do meu corpo e eu não conseguisse respirar, só ofegar, procurando o ar que não me era destinado. Perdia os sentidos há medida que me movia e pela primeira vez aprendi a abraçar essa sensação em vez de a repelir.
E assim, num movimento digno de beija-flor, toquei-lhe suavemente. O calor que percorreu nada centímetro da minha pele não era o esperado e mais uma vez me sentia desfalecer apesar da sensação ser idêntica à de tomar um banho em que a água ferve mas ainda assim nos queremos manter lá dentro.
Não podia o podia largar. Deixei-me levar ao som de uma música que era apenas audível para ele, para mim, para nós, numa noite em que o céu chorava e ainda assim havia estrelas sorrindo."
Não podia o podia largar. Deixei-me levar ao som de uma música que era apenas audível para ele, para mim, para nós, numa noite em que o céu chorava e ainda assim havia estrelas sorrindo."