quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Inverno

Passeavam por entre as ruas da cidade sem esperar nada mais.
Na mão dele, o cartuxo das castanhas comprado por impulso, quente, a última fornada do dia.

Na mão dela, o fruto amarelo, fumegante, a ser suavemente dividido para os dois, para que partilhassem do mesmo sabor.

Todos os que passavam invejavam a cumplicidade.

Era como contar uma história, com um inicio tão doce e sem vontade de terminar. O aproveitar de cada segundo movia-os e, talvez por isso, nem notavam que o sol já se punha, as aves recolhiam e o mundano dava lugar as luzes da metrópole.

Dançavam a melodia insonora do carinho que os unia com o riso, o toque e os olhares que trocavam.

As palavras proferidas eram do quotidiano mas a forma como saiam dos lábios dela faziam com que parecesse magia: a luz de fim do dia, os cabelos ao vento frio, esse que lhe corava as bochechas e lhe dava o ar de bonequinha com corpo de mulher. Apesar do seu tamanho, transpunha a personalidade de um gigante. Era impossível não a escutar, prestar-lhe atenção pois era demasiado atrativa toda aquela imagem.

Estava a apaixonar-se por ela de novo: pelo sabor dela, pelo brilho no seu olhar e a transparência e suavidade no viver. Apenas dizia a si próprio: "Vem; desta vez não foste tu a falhar e eu ainda te quero comigo"