segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pedido de desculpas

Foi um dos momentos mais esquisitos que já vivi.
Rápido, sem qualquer tipo de sentimento deixei-me beijar por alguém que não eras tu.
Sabia o quão destruidor ia ser aquele momento.
Sabia que, por muito que tu também já o tivesses feito, era o meu acto que ia deitar por terra tudo.

Não te podia esconder. Não podia saber que tinha algo que não tinha partilhado contigo.
Eu prometi-te que estaria aqui para o bom e para o mau. Mesmo que o mau fosse eu, mesmo que, também eu, fosse capaz de te magoar.

Afinal, tenho defeitos. Consegui destruir algo que já tinhas deitado por terra.
As lágrimas derramadas constantemente, diariamente, não chegam para tu poderes compreender o que eu senti quando tu me disseste, mais de que uma vez, que te tinhas partilhado, dado de ti a mulheres que não eram eu.

Já sabias há muito tempo que eu não te minto, não escondo, não omito.

Precisava que soubesses para que me podesses julgar como eu não fiz, odiar como eu não consegui e não perdoares, ao contrário de mim.
Não que tenhas algo a perdoar: tal como tu, eu não te devo nada (pelo menos na teoria).
Na prática é bem diferente. Se te pertenço, mesmo que tu não me queiras, tudo o que eu faço tudo o que tu fazes me afecta, me destroí.

E agora? Não consigo ser feliz contigo nem sem ti. Apenas não me faças perder tudo o resto.
Sei que um dia te disse que não queria nada pela metade.
Isso era antes de saber que não ter é bem pior do que ter uma parte.

Desculpa-me.

Chave

Fechei todas as portas e janelas.
Corri as cortinas, tranquei as portadas.

A chave? Lancei-a no final da história, no poço profundo como o da "Alice no País das Maravilhas" e ela caiu...
caiu...
caiu...
e nunca deixou de parar de cair porque tu não deixavas de escavar, escavar, escavar.
Também não a quero - só me trouxe falsas esperanças.
Tenho a casa fechada. Ninguém sai e ninguém (mais) entra.
Muito menos tu.
Expulsei-te, devolve-me o que é meu.
_______

No entanto, percorrendo os quartos, encontro o teu perfume vagabundo, escondido nos livros, na cama e na roupa que não levaste.
Visto uma das tuas camisas.
O vento bate nas janelas, forçando-as a abrir.

Dispo-me. Dispo-me de ti (como de todas as outras vezes).
A ventania dá então lugar à brisa - há agora calma lá fora.
Cansei de te sentir. Fazes-me bem e mal. És Sol e trovoada.
Quero a casa fechada. Ainda está a chover e eu não quero mais estragos.