sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Wanted

Vens inocentemente, com esse teu ar de menino, com o teu jeito de falsa ingenuidade.
Tu sabes, perfeitamente, que estás louco.

Louco para me tirar a roupa à dentada, ver-me torcer enquanto me mordes a barriga.
Cada centímetro meu, mexe contigo apesar de só poderes ter as mãos onde eu quero, quando eu quero. Deitado na minha cama, quente, menino-homem, sou eu que mando porque quando tu me queres e eu não te quero.

Ainda assim, eu não te conheço. Nada do que é teu me pertence assim como eu pertenço a outra pessoa que, não és tu que agora me beijas as costas, a boca, o pescoço.

Olhas-me de uma forma sem sentido, cheia de malícia mas simultâneamente parece-me até carinho ou respeito. Não me perguntes porquê, contudo sinto que tu conheces a verdade que me trazes. A tua vontade torna-se minha. És tu que mandas porque quando eu te quero, tu não me queres.

O desejo é bilateral. Tu consumes-me, eu consumo-te .

Na minha cama onde só tu estivestes, onde percorreste, aqueceste, devoraste o meu corpo num tempo em que nos deixámos ir- Aí? Aí, ninguém mandou.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Querer

Por vezes nem tudo é como queremos. Tu não és como eu quero.
Quem eu quero atura as minhas birras, ouve-me, nunca discute comigo nem me faz ficar triste.

Quem eu quero liga-me a meio da noite se estiver doente, convida-me para dançar sem vergonha e ri-se para mim e faz-me sorrir também.
Não tenho quem eu quero. Mas não preciso.

Porque em todos as coisas (boas e menos boas) vejo-me em ti.
Em cada gesto, em cada frase, em cada carinho dado de uma forma inexplicável aos olhos das pessoas comuns.
É difícil explicar esta sensação. Esta transcendência de sentimento por ti.

És importante na minha vida embora as vezes nos esqueçamos ou não queiramos lembrar que, para além de tudo o que um dia possa passar entre nós, para além das zangas e para alem das coisas boas que hão-de vir.

Um dia vai ser como eu quero.

Sombra

Dois corpos. Uma só sombra. Uma só alma.
Algo que une de uma forma inexplicável.
Não há inicio nem fim. Nem Bem nem Mal.

São apenas caminhos cruzados cravados na pedra.

Mesmo quando o Sol não desperta,
quando não há fuga possível,
emerge uma luz que traz a união de volta.

A amizade, o Amor.

A sombra vai ser sempre fiel e acompanhar-nos qualquer que seja a circunstância.
A ligação que os torna únicos, algo que se manterá para o resto da vida.

Não dois, mas um.
Uma só sombra.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ela

"Sou um hipócrita.
Tentei mentir. Ela sabia que era tudo verdade e não pude fugir.
A verdade é que eu a tinha traído. Físicamente mas, pior ainda, emocionalmente

Mas se ela for...
Sem os seus beijos, os seus carinhos, os seus abraços.

NÃO! Ela que faça de mim o que quiser,
Pode até bater em mim, chamar-me nomes, gritar,
Mas por favor, não quero que ela vá embora.

O seu beijo pertence-me. O seu corpo e mente também.
Por favor não deixes, não deixes que ela feche a porta!!

Eu sei que ela confiou em mim, que te se deu a mim
Enfraqueci a nossa história,
Queimei as páginas que ainda estavam por escrever.
Não pensei com o coração e agora ela não está mais aqui.

Foi embora e a culpa é minha.
Vejo-a ir, sozinha mas com vontade.
A minha? Fugiu? Sim,
Com ela, só com ela, mil vezes com ela.
E já não há volta, fui eu quem escolheu."

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Hoje eu estou sozinha

Hoje eu estou sozinha
Vou pintar minhas unhas,
alisar o meu cabelo agora negro,
como tantas vezes fiz para te ver sorrir.

Hoje eu estou sozinha,
Vou-me arranjar, produzir,
ler o livro que trago na carteira
Não sei se me vou ou se me trago.

Se eu me perder pelo caminho
Eu perco-me sozinha.
O mal é meu.
Mas se eu ganhar
Aí sou só eu que ganho.
O mérito é meu.

Já parei.
Parei de te esperar
PAREI!!!

De te procurar,
De te esperar
De ligar só para ti
E te compreender,e que mais? ah!...

Tu sabes, tu sentes.
Ainda que por breves rasgos de tempo,
sentes a minha falta.

Ainda assim, hoje eu estou sozinha
E tudo parece mais e maior.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Persistência - (III)

"O tempo corria e só os nossos beijos roubados o faziam abrandar, ganhar folêgo para, de seguida, nos afastarmos e procurarmos de novo, como uma música sem compasso constante.

Apesar de tudo eu sei as tuas cores, que és capaz de ser um camaleão, que facilmente te adaptas às minhas necessidades, vontades, impulsos para teres aquilo que desejas naquele momento.

Reconheço que é parte de quem tu és e não pretendo mudar-te assim como não vou mudar os meus valores ou mecanismos por causa de uma aventura contigo.
Como já te disse mil e duas vezes, eu não funciono como as outras raparigas as quais estás habituado.

Talvez não saibas reagir a isso ou então sou eu que na minha ingenuidade acho que é isso que acontece.
És como o vento que já passou na minha história. Sabes levemente as coisas que me afectaram (e ainda me afectam, por vezes) e por uma estranha razão senti que compreendeste minimamente. Estranho, não é?

Quero fugir de novo contigo, um fugir de crianças, sentar contigo num banco de jardim e beijar-te e deixar-me beijar.
Precisas de mais? Eu não e também não te peço mais nada.

Persistência - (II)

"(...) Percorreste cada centímetro com os teus olhos, sonhaste ter a tua boca no meu pescoço e nunca mais dali sair. Quiseste abraçar-me, passar as mãos pelo meu corpo, as minhas curvas que tantas vezes te atraíram.
Eu sentia-me bonita naquela noite. Tu fizeste-me sentir desejada.

Não escondeste a tua vontade e, quando os teus dedos me tocaram na pele, olhastes-me como se eu fosse pecado. Desafiaste-me e sabes bem que eu não resisto a uma provocação. Insolentemente, encostaste o meu corpo ao meu, puxaste-me para ti.
No meu pensamento, o sabor imaginário da tua boca. Todos os meus sentidos captavam cada um os teus gestos, independentes mas subordinados aos meus movimentos.
Sabes que eu mexo contigo.
Sabes que eu não sou mais uma.
Acho que é isso que te atrofia, que te definha, que te confunde.
Eu atraí as tuas qualidades e nem sequer pensei no possível negativo.
Senti o calor da tua língua na minha graças à minha cedência e a tua persistência
Levaste-me contigo, arrastada confortavelmente no nosso embalo.
O tempo corria e só os nossos beijos roubados o faziam abrandar, ganhar folêgo para, de seguida, nos afastarmos e procurarmos de novo, como uma música sem compasso constante. (...)"

domingo, 24 de janeiro de 2010

Persistência - (I)

"Estava frio e tu tinhas-me abraçado durante toda a noite.
Persistente e obstinado como sempre, rondavas o meu espaço, entravas sem vergonha e trazias a lata própria de um copo a mais.
Os nossos amigos comuns mandavam as suas indirectas mas eu não tinha qualquer tipo de ideia em relação a ti.
Em tempos, quando desconhecia a tua faceta exibicionista, mexias comigo, com o meu corpo e a minha libido, mas provocaste-me o turn off total quando a conversa sobre tuas proezas sexuais em frente aos teus amigos era muito mais importante que tudo o resto.
O desejo morreu aí e todas as tentativas provocadoras, irresponsáveis eram lançadas por terra tanto por mim como por ti.
Vivíamos no jogo constante, em que os participantes não eram apenas nós e, contudo, fomos atraídos e repelidos incessantemente.


Não desististes, persististes, insististes.
Acho que deves ser das pessoas mais teimosas que eu conheço.
Como aqueles bonecos "sempre-em-pé" que se recusam a cair, a cansar de correr atrás por aquilo que querem.

Tu quiseste-me, nunca escondeste. Não havia essa necessidade entre nós. A irracionalidade racional que nos toma quando nos juntamos é vísivel e passa para o resto do mundo - e eu que achava ter ainda sangue de actriz.
Forçaste-me com esses olhos verdes, consumiste-me com o teu ar de malandro.

Desconhecias os meus defeitos mas analisavas cada uma das minhas virtudes gritantes através da minha camisola justa, decotada, a saia curta e esvoaçante que deixavam ver as minhas pernas que se delineavam graças aos saltos altos.
Percorreste cada centímetro com os teus olhos, sonhaste ter a tua boca no meu pescoço e nunca mais dali sair. (...)"

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

on my own


Sozinha. Imaginado que ele está aqui,
sentindo os seus braços à minha volta.
Fecho os olhos. Ele encontrou-me.
Chove. A rua brilha como prata e eu vejo-nos, o nosso reflexo.


É apenas imaginação. Estou a falar sozinha.
Estou a falar sozinha e não para ele.
E mesmo que ele seja cego
eu ainda digo que há uma hipotese para nós.


Amo-o. A noite desvanece. Ele desapareceu.
O mundo mudou. A rua está cheia de estranhos.
A chuva parou. Procuro-o, encharcada.
Onde está o seu abraço?



Amo-o, mas todos os dias aprendo. Estive a fingir.
Sem mim, o mundo dele continuará a girar.
Um mundo de felicidade que eu nunca conheci.
Amo-o, amo-o, amo-o mas estou sozinha.


(Adapted from - On my own)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pedido de desculpas

Foi um dos momentos mais esquisitos que já vivi.
Rápido, sem qualquer tipo de sentimento deixei-me beijar por alguém que não eras tu.
Sabia o quão destruidor ia ser aquele momento.
Sabia que, por muito que tu também já o tivesses feito, era o meu acto que ia deitar por terra tudo.

Não te podia esconder. Não podia saber que tinha algo que não tinha partilhado contigo.
Eu prometi-te que estaria aqui para o bom e para o mau. Mesmo que o mau fosse eu, mesmo que, também eu, fosse capaz de te magoar.

Afinal, tenho defeitos. Consegui destruir algo que já tinhas deitado por terra.
As lágrimas derramadas constantemente, diariamente, não chegam para tu poderes compreender o que eu senti quando tu me disseste, mais de que uma vez, que te tinhas partilhado, dado de ti a mulheres que não eram eu.

Já sabias há muito tempo que eu não te minto, não escondo, não omito.

Precisava que soubesses para que me podesses julgar como eu não fiz, odiar como eu não consegui e não perdoares, ao contrário de mim.
Não que tenhas algo a perdoar: tal como tu, eu não te devo nada (pelo menos na teoria).
Na prática é bem diferente. Se te pertenço, mesmo que tu não me queiras, tudo o que eu faço tudo o que tu fazes me afecta, me destroí.

E agora? Não consigo ser feliz contigo nem sem ti. Apenas não me faças perder tudo o resto.
Sei que um dia te disse que não queria nada pela metade.
Isso era antes de saber que não ter é bem pior do que ter uma parte.

Desculpa-me.

Chave

Fechei todas as portas e janelas.
Corri as cortinas, tranquei as portadas.

A chave? Lancei-a no final da história, no poço profundo como o da "Alice no País das Maravilhas" e ela caiu...
caiu...
caiu...
e nunca deixou de parar de cair porque tu não deixavas de escavar, escavar, escavar.
Também não a quero - só me trouxe falsas esperanças.
Tenho a casa fechada. Ninguém sai e ninguém (mais) entra.
Muito menos tu.
Expulsei-te, devolve-me o que é meu.
_______

No entanto, percorrendo os quartos, encontro o teu perfume vagabundo, escondido nos livros, na cama e na roupa que não levaste.
Visto uma das tuas camisas.
O vento bate nas janelas, forçando-as a abrir.

Dispo-me. Dispo-me de ti (como de todas as outras vezes).
A ventania dá então lugar à brisa - há agora calma lá fora.
Cansei de te sentir. Fazes-me bem e mal. És Sol e trovoada.
Quero a casa fechada. Ainda está a chover e eu não quero mais estragos.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Aqui e agora

Aqui, agora.
Em qualquer outro tempo, em qualquer outro lugar.
Luto todos os dias contra a vontade de te procurar,
de te agarrar, empurrar contra uma parede e
beijar-te sem parar para respirar sequer.

Às vezes, penso se é apenas isso que me faz falta:
Ter o teu corpo misturado com o meu, sem regras;
O teu sabor e o meu, provocando arrepios com a
respiração ofegante no meu pescoço;
Nas minhas costas, os teus dentes docemente
cerrados, sem pensar, sem medo, sem tabus.
Talvez, aqui mas não agora,
Eu sinta a tua falta, apenas físico e não do emocional.
Talvez seja a saudade das tuas mãos que me assombra,
de te sentir a olhar para mim no final da tarde
E depois quando me abraças...

Mas tu não estás aqui e agora
Não estiveste ontem nem estarás amanhã.
E eu sei e luto, de novo, mas para te ver partir do teu espaço,
da gaveta que desenhei, decorei e, preparei para ti
e para mais ninguém.

Não aqui e não agora - Apenas silêncio,
marcado com as palavras de "Adeus", "Até um dia".
Levo-te no coração mas um dia vou ter que te deixar
caminhar na rua estrada, desenhada, decorada, preparada por ti.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Perfume

Espalhado por toda a roupa, está o teu perfume.
A tua presença vagueia em mim, nos meus livros, na minha cama.

O som do mar faz-me lembrar quando dormiste no meu peito, sabendo que era aí que estarias guardado.
As horas queimadas como o papel, rapidamente, calorosamente fizeram com que me marcasses com a tua côr, o teu sabor.

Nem saber que te partilho (ou será que apenas me alimento com a essa esperança?) com memórias mal apagadas, mal amadas me fez afastar de ti, da tua imagem feliz quando estávamos juntos e prestes a apaixonar.

Fugiste cedo demais, tinha tanto ainda para dar.

Mas...
Foi bom, não foi? Os passeios meio escondidos do mundo, os beijos roubados e os sorrisos incontroláveis?

Estivemos perto, pertinho, como quando sonhava que andávamos à beira-mar, de mão dada e surgia o pôr-do-sol devagar, devagarinho.
Eu dei-te o meu coração para o guardares bem guardado, tentei-te mostrar o quanto desejava ser a tua mulher, pertencer-te só a ti, dividir-me só para ti.

Não chegou e vi-me embrenhada numa perigosa rede em que era eu o pequeno insecto indefeso que lutava contra as malhas de um sentimento completamente diferente, que impedia a luz da razão entrar.

Quero voltar à mesma Raquel de sempre, Filipe - A Raquel racional e forte que partilha a vida contigo sem se envolver, sem decompor o seu próprio ser, rir até cair sem medo ou falta de confiança.
Quero redescobrir a mulher que um dia fui sem o teu perfume no meu vestido vermelho.
Se não sou suficiente para me amares, de que vale a pena lutar numa batalha perdida?
Contudo, eu ainda faria tudo de novo, igual ou melhor, dar-nos-ia um começo sem final se isso te despertasse a realidade (agora) irreal de que nós ainda teríamos uma nova oportunidade para sermos amantes, felizes, apaixonados.

Flutuo

"Hoje eu vou fingir que não vou voltar
Despeço-me do que mais quero
Só para não te ouvir dizer que as coisas vão mudar amanhã.


Hoje eu vou fugir para não me dar a vontade de ser tua
Só para não me ouvir dizer que as coisas vão mudar amanhã, amanhã, amanhã."

Susana Féliz in Flutuo

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Não

Ela deambulava pela rua fora.
Os passos eram como os de uma criança.
Pequenos, solenes, marcados.

Tomara as suas próprias decisões.
Dera-lhe o seu coração mas ele não o guardou.
"Não faz mal"- pensava ela, secretamente -

"De qualquer forma não o faria feliz:
Não lhe traria luz aos dias;
Não o faria corar;

Não lhe traria o pequeno-almoço à cama;
Não o beijaria com paixão;
Não lhe lhe diria que seria para sempre;

Não dançaria com ele à chuva;
Não vestiria aquele vestido por ele;
Não dormiria abraçada a ele.

Pelo menos não todos os dias.
Ter-lhe-ia dado o tempo, o espaço.
Ter-lhe-ia dado as saudades e a reconciliação.

Mas quem escolhe é quem não ama.
Porque quem ama não têm escolha,
Apenas vive porque vive a amar.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Carne fraca

Esperar foi das primeiras lições que aprendi sobre gostar de alguém.
Esperei por ti e tu apenas não vieste.

A tua roda viva de desengano manteve-te vivo e, ao fazê-lo permitiu-me continuar a (sobre)viver.

Chega! Não quero isto. Não quero saber que estiveste abraçado a ela, que a beijaste, que a tocaste.Não quero saber que nem sequer pensaste em mim, no meu rosto, no meu corpo.


Foi tudo em vão? Eu pensava que te tinha adoçado o coração e afinal olha o que fizeste ao meu!Nunca permiti que as circunstâncias alterassem o meu jeito de ser mas tu não és assim.

Se te desejo e se te adoro, então não vou correr para chorar as minhas mágoas no peito de outro homem. É puramente contra-natura, contra-amor.

Vou ter que te deixar ir porque eu para ti sou apenas mais uma apesar de tu teres a prova viva e diária que eu sou bem diferente e de saberes que eu te faço bem e te faço feliz.

Somos o avesso porque eu sou pró-felicidade, pró-confiança ainda que os motivos que me prendem a isso sejam o teu sorriso, o teu beijo, as tuas brincadeiras tolas e a forma como me pegas ao colo e danças comigo no meio da rua.

Tornaste-te carne fraca e deixaste-me escapar.
E eu, desta vez, queria que fosse de verdade. Tinha esperanças depositadas em ti.

Vai e não voltes.
Corre para ela ou para outra qualquer; já não importa porque também já não há nada que eu possa fazer para te manter comigo.
Desejo-te muito, ainda, mas preciso de alguém que tome conta de mim e tu simplesmente não o queres fazer.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Areia

Continuo na esperança de te voltar a ter nos meus braços, ainda que tu sejas areia de praia.

Foges, escapas pelos meus dedos e voltas de novo ao mar, onde te sentes seguro, onde não te envolves a não ser com o frio e esperas congelar e esquecer.
_____

Eu congelei mas não esqueci.
Sabes aquela sensação de areia no corpo, incomodativa, persistente e que nos faz desejar um longo banho de espuma depois das loucuras de Verão na praia, de rebolar pelas dunas fazendo amor sem regras?

Eu sinto isso.
Incomodas, arranhas, magoas.
Corrompes, destróis, castras a vontade de sorrir de novo.
Acho que apenas anseio por ter a àgua a correr pelo meu corpo, aquele que já tiveste nas tuas mãos, enconstado a ti durante horas, por onde passaste os teus lábios e fez brilhar os teus olhos.
Quero que àgua quente, antítese de oceano, me lave e te leve.
De vez, por fora e por dentro.

Se não me queres, para quê guardar as memórias?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cinema

"Hoje em dia para mim ve-lo é como assistir pela décima vez ao cinema paraíso. Continuo a adorar mas já conheço todas as cenas, já decorei todos os diálogos e não falho uma sequência. Ele no fundo é como se fosse família, já faz parte da mobília. Prefiro não pensar se ainda o amo ou não, porque no fundo sei que sim, mas ando a convencer-me de que tenho o direito de me deixar ser amada por outro homem."

Margarida Rebelo Pinto em Não há coincidências

domingo, 3 de janeiro de 2010

C'est fini

Apaixonei-me sempre pela pessoa errada, no tempo errado.
Começo a achar que deve ser algum feitiço que a minha fada-madrinha me lançou tendo em vista o meu afastamento dos homens em geral ou então fazer-me ver que gostar de alguém é puramente um estado inventado pelos escritores comparável apenas à loucura.
Acho que é isso: Loucura.

Cair no mesmo erro, repetidamente, muitas vezes escorregando na mesma pessoa que um dia nos jurou proteger, cuidar e gostar sem reservas é claramente um sinal de loucura desmedida.

Eu tenho a certeza que sou das maiores lunáricas. O meu maior erro é querer confiar.
Não confio e, quando vejo uma oportunidade, atiro-me de cabeça sem protecção procurando a confiança que também deposito.

Verificação ortográfica
Ai está a crassidade da situação: ninguém confia nem ama como eu.
A estupidez pura reside aí. Acreditar que alguém pode conseguir reagir de forma idêntica aos sentimentos depositados.

É demasiada responsabilidade. Conviver sem medo comigo,

Não censuro.

Eu realmente assusto as pessoas porque eu rio sem consequências, presto atenção aos detalhes, interesso-me por tudo aquilo que te possa fazer feliz.
Assusto porque acredito, me dedico, amo.
E amo porque estou sujeita à loucura.

Perdão, a culpa é da fada-madrinha.

Acabou e já não tenho mais lágrimas. A loucura já as roubou inúmeras vezes.
Agora volto à busca incessante, não de alguém, mas de mim própria.

Confiar não, viver sim.

4 a.m.


Eram quatro da manhã.
O telemóvel tocava incessantemente.


"Bolas! Quem será a esta hora?" - levantou-se lentamente, enrolada no lençol preto que tinha comprado à poucos dias.


"Sou eu, R"
O coração parou. A respiração dele era a única coisa que só ouvia do outro lado da linha.

"Vem cá fora."
Sem pensar nas consequências, nas promessas feitas a si própria, ela vestiu o roupão de seda e, descalça, abri-lhe a porta como tantas vezes tinha feito.
Mas desta vez não o deixou entrar. "O que queres? São quatro da manhã!"


Ele conseguia distinguir cada traço do corpo dela, as curvas insistentes mas delicadas, o cabelo ainda louco, os olhos brilhantes e os lábios húmidos.Estava linda naquele robe justo que tantas noites tinha sido tocado pelas mãos dele.



"Volta para mim."
Eram as palavras que ela mais desejava ouvir desde a última vez que tinham estado juntos e ele havia terminado tudo. Contudo, como poderia ceder de novo aos caprichos impulsivos dele?
A imagem que ele tinha dela não era mais do que a de uma mulher indefesa, mas com carácter forte que apesar de tudo não lhe resistia e, ainda assim, comparava àquela que um dia lhe destruiu o coração e que ele nunca deixou partir, pelo menos não a sua presença.


Raquel não era igual a ela; pelo contrário, era o seu máximo oposto. Pacífica (a maioria das vezes), nunca poria ninguém à frente de uma possível felicidade com aquele homem que se apresentava à sua frente. Mas até que ponto seria isso viável? Viver na sombra de alguém inferior a ela?
Amava-o mas ele só estava ali para tentar apagar um desgosto e ela não seria apenas a forma fácil de o fazer.



"Não. Eu não posso"
Fechou a porta. O seu corpo fraquejou e tudo que conseguia fazer era deixar que as lágrimas escorressem.

Arrastou-se até à cama onde estava deitado outro homem.

Aninhou-se junto a ele e perguntou a si própria : "Porque é que ele não me saí da cabeça e me deixa viver? Se eu não sou suficiente para ser algo mais do que uma diversão momentânea porque é que ele não me deixa correr atrás de algo que me possa fazer feliz?"



O corpo quente de outro homem gelava-a por dentro.
Fugia da sua própria casa sem saber lidar consigo nem com o sabor que ainda tinha da última noite em que tinha estado com o amor da sua vida.


Largou o seu engate nocturno e desesperou para um hotel do outro lado da cidade.
"Será que ele ainda consegue ser feliz?"