segunda-feira, 8 de março de 2010

Sereia, mulher e amante

É um amanhecer para a vida quando se beija alguém para primeira vez.
Alguns dias nascem cinzentos, mortos e apáticos.
Outros trazem a luz do Sol, o calor e a chama.

Tornamo-nos leve e nadamos ao som das línguas que parecem ter o ritmo das ondas, regulares, agri-doces e de vez em vez, são, em apenas um rebolar, um as brincar de crianças, um mar bravo feito corpo ou espírito.
A respiração, ofegante ou serena, que me elevam a um estado de paz interior como se pudesse ouvir o som de mil búzios ecoando, sentindo cada vibração passar pelo meu corpo suave, queimado pelo sol, brilhando - como a água - em antítese com a tua boca tão rude e áspera e masculina - como areia.
Os mil e um centímetros da minha pele chegam para que, numa única viagem, ainda que experiente marinheiro, te percas e te encontres, perseguindo um canto de sereia tornado real ainda que não na voz mas sim nos meus lábios, na harmonia da curva das minhas costas, no ritmo dos meus ombros fortes e na melodia do meu decote entre a lingerie que tem a cor de um pôr-do sol eterno.
Podes até trazer a chuva e fazer-me beijar-te por entre lágrimas de tristeza, de desejo ou felicidade. Podes até ancorar-te em mim, ser eu o teu cais, o teu farol. Torna-me essencial à tua construção.
Mas beija-me, traz contigo o sabor das tardes passadas na areia mesmo que apenas em pensamento. Traz o teu sabor a praia, a água, a sol, a ar, a concha.

Deixa-me ser tua. Dar-me a ti. Ser o teu porto de abrigo e a tua aventura.
Sereia, mulher e amante. Mais do que música, mais que amor, mais que desejo.
Estou a beijar-te mesmo que a imaginação me traia e me diga que tu não és real, não passas de um espectro concebido pela minha mente para que eu me mantenha tão ocupada que não veja o que é verdadeiro.