domingo, 3 de janeiro de 2010

C'est fini

Apaixonei-me sempre pela pessoa errada, no tempo errado.
Começo a achar que deve ser algum feitiço que a minha fada-madrinha me lançou tendo em vista o meu afastamento dos homens em geral ou então fazer-me ver que gostar de alguém é puramente um estado inventado pelos escritores comparável apenas à loucura.
Acho que é isso: Loucura.

Cair no mesmo erro, repetidamente, muitas vezes escorregando na mesma pessoa que um dia nos jurou proteger, cuidar e gostar sem reservas é claramente um sinal de loucura desmedida.

Eu tenho a certeza que sou das maiores lunáricas. O meu maior erro é querer confiar.
Não confio e, quando vejo uma oportunidade, atiro-me de cabeça sem protecção procurando a confiança que também deposito.

Verificação ortográfica
Ai está a crassidade da situação: ninguém confia nem ama como eu.
A estupidez pura reside aí. Acreditar que alguém pode conseguir reagir de forma idêntica aos sentimentos depositados.

É demasiada responsabilidade. Conviver sem medo comigo,

Não censuro.

Eu realmente assusto as pessoas porque eu rio sem consequências, presto atenção aos detalhes, interesso-me por tudo aquilo que te possa fazer feliz.
Assusto porque acredito, me dedico, amo.
E amo porque estou sujeita à loucura.

Perdão, a culpa é da fada-madrinha.

Acabou e já não tenho mais lágrimas. A loucura já as roubou inúmeras vezes.
Agora volto à busca incessante, não de alguém, mas de mim própria.

Confiar não, viver sim.

4 a.m.


Eram quatro da manhã.
O telemóvel tocava incessantemente.


"Bolas! Quem será a esta hora?" - levantou-se lentamente, enrolada no lençol preto que tinha comprado à poucos dias.


"Sou eu, R"
O coração parou. A respiração dele era a única coisa que só ouvia do outro lado da linha.

"Vem cá fora."
Sem pensar nas consequências, nas promessas feitas a si própria, ela vestiu o roupão de seda e, descalça, abri-lhe a porta como tantas vezes tinha feito.
Mas desta vez não o deixou entrar. "O que queres? São quatro da manhã!"


Ele conseguia distinguir cada traço do corpo dela, as curvas insistentes mas delicadas, o cabelo ainda louco, os olhos brilhantes e os lábios húmidos.Estava linda naquele robe justo que tantas noites tinha sido tocado pelas mãos dele.



"Volta para mim."
Eram as palavras que ela mais desejava ouvir desde a última vez que tinham estado juntos e ele havia terminado tudo. Contudo, como poderia ceder de novo aos caprichos impulsivos dele?
A imagem que ele tinha dela não era mais do que a de uma mulher indefesa, mas com carácter forte que apesar de tudo não lhe resistia e, ainda assim, comparava àquela que um dia lhe destruiu o coração e que ele nunca deixou partir, pelo menos não a sua presença.


Raquel não era igual a ela; pelo contrário, era o seu máximo oposto. Pacífica (a maioria das vezes), nunca poria ninguém à frente de uma possível felicidade com aquele homem que se apresentava à sua frente. Mas até que ponto seria isso viável? Viver na sombra de alguém inferior a ela?
Amava-o mas ele só estava ali para tentar apagar um desgosto e ela não seria apenas a forma fácil de o fazer.



"Não. Eu não posso"
Fechou a porta. O seu corpo fraquejou e tudo que conseguia fazer era deixar que as lágrimas escorressem.

Arrastou-se até à cama onde estava deitado outro homem.

Aninhou-se junto a ele e perguntou a si própria : "Porque é que ele não me saí da cabeça e me deixa viver? Se eu não sou suficiente para ser algo mais do que uma diversão momentânea porque é que ele não me deixa correr atrás de algo que me possa fazer feliz?"



O corpo quente de outro homem gelava-a por dentro.
Fugia da sua própria casa sem saber lidar consigo nem com o sabor que ainda tinha da última noite em que tinha estado com o amor da sua vida.


Largou o seu engate nocturno e desesperou para um hotel do outro lado da cidade.
"Será que ele ainda consegue ser feliz?"