domingo, 15 de novembro de 2009

Opções

Haviam muitas coisas que desconhecia sobre ela. A única coisa que era comum, para todos nós que a víamos passar diariamente por aquela rua, não passava do andar casual, quase flutuante, daquela mulher. O seu pescoço, que trazia constantemente um cachecol, cada dia de uma cor diferente para não destoar das suas roupas, deixava escapar sempre um uma visão daquela pele tão branca que contrastava com os seus cabelos negros, num decote apetitoso mas simultâneamente discreto. Aquela mulher era a personificação de uma brisa de Verão num Inverno gelado como este.
E não muito longe, ele esperava-a.

Tinha no pensamento as cartas que não haviam sido escritas por ele e, no entanto, estavam cuidadosamente guardadas na casa que não partilhavam.

Queria gritar-lhe, chamar-lhe nomes, chorar, alegar que ela não o merecia mas tinha consciência que isso seria impossível.

Ela era um animal da selva, sem possibilidade de ser domada cravada nos seus olhos mas que trazia a doçura na sua pose.
Sabia que a amava mas para ela, ele não passava de um desejo banal, um no meio de tantos outros.
Nada poderia ser mais atractivo do que a divisão consciente da atracção física e emocional. A questão residia apenas numa coisa: por qual optaria ela?

Seria ainda possível fazer mais alguma coisa que abrisse as portas à paixão?

Ele não conhecia a resposta e, quando ela se colocou em bicos dos pés para o beijar como sempre, naquele alegre jogo de amantes sem compromisso, ele não negou o seu toque, abraçou-a e disse: "O que te demorou tanto?".